Por Ronaldo L’Costa
Capítulo I:
A sombra de um povo
Arredores de Bucharest, 14 de Junho de 1897…
O acampamento cigano dança e canta ao som dos instrumentos enfeitados de sua tradição e a luz da fogueira que estala e fagulha em seu centro. Sem dançar, os olhos fixos no fogo bruxelante, o Rei Valakhov contempla a dança. Mas seus pensamentos vão muito além do momento feliz… Em um salto ele se levanta, uma garrafa de rum entre as mãos. A música imediatamente para. Andando em Círculos, olhos ainda fixos no fogo ele fala aos seus:
-Meus irmãos! Os Rom que hoje despejam esse Dilabal em torno da fogueira, são muito diferentes dos antigos do nosso povo… Hoje possuímos em nossas veias mais sangue Gadje do que gostaríamos… Nossos perseguidores assim o fizeram para acabar com nossa descendência! Nos deixar mais fracos e nos tornar como eles… Infelizmente, para eles, isso apenas nos fortaleceu. Hoje conhecemos suas fraquezas e temores e eles apenas fortalecem em si o ódio e temor pelos Romani. Devo lembrá-los e a nossas crianças tudo que aconteceu para que o ódio delas nos libertem da escravidão. Pois aquele que odeia não sente medo. Apenas avança e jamais recua.
Os olhos ávidos do Príncipe Dante ouvem atentamente as palavras do pai. No lenço em sua cabeça, estão penduradas as medalhas de ouro que revelam a existência de um verdadeiro Príncipe Cigano. O velho Rei continua:
– Os monstros Icheblavzt nos proibiram de falar o Romani, mas ele sobrevive! Nossos trajes foram cerceados e nossas roupas enegrecidas e corrompidas… Mas nós ainda guardamos embaixo dos trapos que nos dão a pele colorida do espírito Rom!! – Gritos e agitação de todos… O Rei os aquieta com um balançar de mãos – Nos proibiram de viajar, de trabalhar em nossos ofícios, mataram nossos cavalos e mutilaram nossas mulheres… MAS NÓS AINDA ESTAMOS AQUI!! – Há então uma série de gritos e sons desordenados dos instrumentos. – Em última estância meus Chavoros, nos escravizaram… mas isso muda esta noite, os monstros terão algo para se lembrar sobre a nação dos Romani! Nossa Rholhaives se espalhará pelos quatro cantos da terra e dirá a todos que não queremos terra ou nação! Saberão de uma vez por todas que o casa de um Rom é onde estão seus pés! E saberão acima de tudo que um Rom sempre se vinga!!!!
As mulheres rodopiam e os homens gritam e cantam! Mas a comemoração é novamente interrompida por uma sinistra figura que sai dentre as sombras… O som abafado do estalar de suas palmas cobertas com luvas de couro ressoa pela noite em meio a mira das armas dos guardiões Romani. Seu rosto é escondido pelas sombras da noite, auxiliada por um chapéu de estilo Húngaro.
Enfrentamos o enviado do Mestre Sascha Vykos…
– Um belo discurso cão… Uma pena ser tão desnecessário… Acha mesmo que a libertação política desses xucros vai conseguir libertar sua alma corrompida? – As armas se engatilham, o rei contém seus homens com um gesto – O que faz aqui Slatcha?
– Vim fazer-lhe uma proposta… Os agentes de meu mestre, diferente da maioria da população e de mim mesmo, vê em você e nos seus cães alguma utilidade. Principalmente a esse pequeno bastardo que aí está.
-Dante? – responde o Rei – O que seu mestre quer com ele?
-Ele possui a marca não? O nascente…
-Vocês não porão as mãos nele… Piral Thsce Bartallo!!!
Com a ordem os ciganos fazem uma roda de defesa em torno do jovem príncipe. Mas coisas estranhas acontecem nas florestas dos Bálcãs, e um a um os jovens gypses caem abatidos por mãos invisíveis. Porém Naghuli o guardião corre para a floresta com o filho do Rei entre as mãos.
Naghuli escuta os sons de passos pesados e risadas sinistras em seu encalço. Ele corre com toda a velocidade que o somente o desespero total pode proporcionar. Seu cavalo sua a tradição dos alazões ciganos. Incrivelmente a criança em seus braços, diferentemente de quase qualquer infante na mesma situação não chora… permanece silencioso em meio aos solavancos das passadas largas do jovem garanhão romani.
Repentinamente Naghuli para em frente a uma grande árvore. Ele ouve rosnados, o cavalo recua de forma assustada, atrás do carvalho ele vê apavorado que lobos se abrigam as sombras noturnas da mesma. As criaturas lupinas circundam os jovens ciganos mas parecem prestar mais atenção a algo ainda atrás deles. Quando um homem se mostra. Cabelos negros, uma grossa barba e inesperadamente vindo do mesmo lugar onde os lobos se encontravam.
O Senhor dos lobos e suas Crias…
– Ora ora ora… – Exclama o estranho senhor dos lobos – O que temos aqui? Gazluggs em nosso território? O que fazem aqui monstros?
– Nenhum assunto com vocês lobos! Só queremos o garoto… Vocês podem ficar com suas árvores… Os Vóivoides nada querem com elas…
– Mesmo? O que nos leva a pensar sanguessuga… Por que daríamos a vocês algo que está nas nossas terras? E é então, por conseqüência, nosso…
– Não me teste lobo…
Quando diz isso o estranho ser assume uma forma inumana… os lobos começam a aumentar estranhamente de tamanho. E o cigano perde a consciência.
Capítulo II:
Dança com lobos
Donovan continua um tanto quanto temperamental…
Margens do Danúbio,14 de Junho de 1907
O jovem Dante espera com a faca em sua mão… Ao lado dele seu jovem potro Donovan mastiga a parca relva enlamaçada enquanto Dante, imóvel, espera. Olhos atentos, a jovem criança espera algo que parece não estar a vista… Repentinamente, um roliça pomba lança vôo por trás dos arbusto, quase que imediatamente a jovem criança lança sua faca, acertando o pássaro em cheio. Das sombras dos arbustos ao fundo uma uma imponente figura surge.
– Você evoluiu rapidamente pequeno Romani… Já seria capaz de matar um homem…
O menino nada responde.
O ancião contiunua:
– Você está muito tempo entre nós criança. Eu fui incumbido de fazer com que você alcance a plenitude de seu talento… E por isso passamos os últimos 8 anos em nosso treinamento. Você aprendeu várias maneiras de matar, e aprendeu o porque… a renovação do ciclo. Mas isso não é tudo… Você deve saber agora de onde veio e porque está aqui. Mas é uma história muito comprida para ser contada… pelo menos por palavras mundanas… Eu tenho uma maneira melhor pra lhe contar isso. Sente-se aqui nesta pedra pequeno Romani. Feche seus olhos…
O jovem Dante sentiu os ventos frios dos Cárpatos gelar sua espinha, sentiu como se fosse cercado por seres mais antigos que as rochas, e ouviu um uivo. Então sentiu-se como se algo tomasse conta de seu corpo e viu tudo…
Viu a opressão sofrida por seu povo desde a saída dos ancestrais indianos, viu o martírio a humilhação e o sofrimento… viu a perseguição. Viu quando em meio a isso tudo os últimos magos ciganos, antes de serem mortos usaram seus poderes para uma grande invocação de uma criança que viria para lavar com sangue a honra do povo cigano pra derrotar seus executores e desacorrentar seus pés. E livrar seu povo de um mal talvez muito além.
O jovem acordou apenas no outro dia… ouviu barulhos fora da cabana e abriu sua janela, viu que seu mestre (chamado por ele por esse nome desde que o conhecera) Era rodeado por lobos. Mais que rapidamente, ele corre até a lareira e apanha uma madeira em brasa; Saindo então porta à fora com uma tocha nas mãos gritando em uma corajosa porém inútil tentativa de espantar os lobos.
Esses porém não fazem menção de movimento, Donovan poderia mesmo jurar que um deles sorriu para ele.
-Não gaste suas energias garoto tolo! Vá para dentro e eu cuido dos lobos…
Dante obedeceu a seu mestre. Ficou olhando por entre as frestas da porta e poderia jurar que seu mestre conversava com os lobos. Ele entrou logo a seguir:
– Escute garoto, você já foi instruído sobre seus talentos e sobre sua missão. Os espíritos lhe contaram anos de história em poucos segundos e você não é mais o mesmo. Eu sou um cigano, mas não posso mais ficar com você, pois eu também faço parte de outro povo que requer certos cuidados. Portanto agora você deve continuar a treinar sua habilidade, seu corpo e muito mais sua mente. Por isso vou enviá-lo a Vienna para que você estude, e conheça outras coisas.
Dante mais uma vez nada disse.
Nessa mesma época comecei o treinamento do meu 1º falcão.
Capítulo 3:
O monge, o assassino e o príncipe.
Sarajevo, 14 de Junho de 1914
Arredores do monastério de Tung, Odessa.
-O jovem tem um raro talento honorável Dailini. Os usurpadores o observam a algum tempo. Ele deve ser recrutado.
– E porque nós, os bravos da casa de Akasha, devemos nos preocupar com um reles assassino Han Tien?
– Porque honorável, ele conseguiu capturar uma fração do Dô… Com armas de fogo.
O velho mestre levanta suas sobrancelhas…
Hotel Lychenstein
No quarto empoeirado do Hotel uma sombria figura, vestindo estranhos trajes, de procedência possivelmente orientais…
O Contratador…
Você entendeu sua missão Cigano?
Donovan apenas balança a cabeça.
Muito bem, aí está a primeira parte do seu pagamento. O restante lhe será dado após o cumprimento da missão…
Sede da Mlada Bosna, 28 de Junho de 1914
-O plano é simples.- Disse o líder da Juventude Bósnia – O membro Gavrilo Princip, conforme foi debatido anteriormente, vai desferir o tiro que nos livrará da dominação Austro-Prussiana! Toda a operação foi organizada. Os membros sabem qual o papel de cada um na hora da ação, portanto, ao trabalho senhores.
A distração de Gravrilo foi perfeita para o disparo….
Franz Ferdinand. Esse era o nome de seu alvo. Dante sabia exatamente a repercussão que seu ato traia… Mais ele buscava algo maior, tinha esperanças que além da Bósnia, seu próprio povo também fosse libertado com a morte do Arque duque. Seu disfarce como atirados de facas do Fantástico Circo Moldaviano lhe serviria de álibi, enquanto ele atiraria no mesmo segundo do jovem Bósnio Gavrilo, que seria culpado pelo assassinato. A única coisa que intrigava Dante eram porque seu contratador fizera questão que as balas de prata pra esse serviço…
Floresta de Millosvtch, horas mais tarde.
A fuga…
Donovan corre… Dante sobre ele pensa na situação enquanto planeja a melhor rota de fuga. A arma do crime foi escondida. O tiro exatamente sincronizado. Ele não sabe como esses homens chegaram até ali… Para persegui-lo. Seu corpo franzino não agüenta mais os trotes em cima de seu alazão. Está cansado. Os Cavalos correm atrás dele, as lanternas escapam por entre as folhas do bosque noturno… Quando o baque surdo de um tiro provoca a revoada dos pássaros. Dante cai… o cavalo para, evita arrasta-lo. Seus agressores se aproximam. O espanto de Dante é estampado em sua face quando ele vê que a face de agressor é a mesma de seu contratante:
-Alegre-se jovem… Como prometi, sua maior recompensa virá depois de seu trabalho concluído. Eu vou lhe dar uma coisa que ninguém teria condições de fazer, vou lhe dar a chance de conhecer coisas que outros homens desconhecem. De enxergar a realidade como ela é. Poder sobre a vida e a morte… Mas para se entender a morte, é preciso antes, abraça-la…
Ele engatilha sua arma, Dante fecha os olhos esperando pelo momento derradeiro, mas escuta um som familiar… Um som de metal cortando o ar. Dante levanta sua cabeça e vê o corpo inerte de seu agressor no chão. Uma estranha arma de cinco pontas em sua testa. Certeiro. Mortal.
Penso o que teria acontecido se o Akasha tivesse chegado segundos depois…
Dante vê atrás de si um homem pequeno. Um manto cinza acabara de voltar a sua posição de descanso… Ele se dirige a Dante:
– Venha comigo jovem Valakhov… Você tem um dom, sabe disso, mas ainda não sabe o que fazer com ele… Nós lhe daremos muito mais que iluminação… Nós lhe daremos um propósito.. Uma vez no caminho do Dô suas habilidades não terão limite e você verá a melhor maneira de se fazer as coisas. Venha e seja um desperto.
…
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